Seg | 01.12.08
Afonso I de Portugal
Já fica vencedor o Lusitano,
Recolhendo os troféus e presa rica;
Desbaratado e roto o Mauro hispano,
Três dias o grão rei no campo fica.
Aqui pinta no branco escudo ufano,
Que agora esta vitória certifica,
Cinco escudos azuis esclarecidos,
Em sinal destes cinco reis vencidos.
Lusíadas Canto III - 54
Corria o ano de 1179, fria e nebulosa era a manhã. Nos seus agasalhos aconchegado, o santo padre, que de santo só tem o nome, passeava meditativo, tinha que resolver um problema na longínqua Ibéria, os Portucalenses, descendentes dos Lusitanos que outrora tinham combatido os romanos e derrotado por diversas vezes a César, estavam a criar problemas e situações embaraçosas, queriam formar o seu reino e lutar contra a mourama que ocupava terra cristã.
Mas o rei de Leão e Castela, poderoso e ávido daquelas terras, opunha-se, tinha mais poder e era mais interessante para os jogos políticos que Alexandre III executava em nome da santa igreja.
É verdade que em 1143 Portugal já fora reconhecido como reino soberano por Afonso VII, pelo tratado de Zamora, mas este reconhecimento escondia o desejo de Afonso VII se tornar imperador da Hispânia e tomar Afonso I de Portugal seu vassalo.
Desejo inocente para quem pensou que Afonso I de Portugal se tornaria vassalo.
Enquanto percorria os corredores ladeados de pedra fria, envolto em pensamentos de questões terrenas, tocou de leve no crucifixo pesado, ouro e pedras preciosas ornavam o corpo macerado de Cristo e um arrepio percorreu o seu corpo. Com um desvio brusco de sua cabeça desviou o pensamento espiritual que no momento o ocupou e novamente se embrenhou na questão política: que anseio leva o espírito humano a gritar liberdade e a lutar pela sua identidade?
Bem, se esse povo, com tanto ardor defende a terra que é sua e quer libertar a terra cristã ocupada pelos infiéis desde séculos, seja declarado e reconhecido o reino de Portugal e Afonso Henriques seu Rei, vassalo da Santa Igreja.
Assim nasceu Portugal…
Alma Lusa
Bula Manifestis Probatum.
A Bula rezava assim (em português actual):
Alexandre, Bispo, Servo dos Servos de Deus, ao Caríssimo filho em Cristo, Afonso, Ilustre Rei dos Portugueses, e a seus herdeiros, in perpetuum. Está claramente demonstrado que, como bom filho e príncipe católico, prestaste inumeráveis serviços a tua mãe, a Santa Igreja, exterminando intrepidamente em porfiados trabalhos e proezas militares os inimigos do nome cristão e propagando diligentemente a fé cristã, assim deixaste aos vindouros nome digno de memória e exemplo merecedor de imitação. Deve a Sé Apostólica amar com sincero afecto e procurar atender eficazmente, em suas justas súplicas, os que a Providência divina escolheu para governo e salvação do povo. Por isso, Nós, atendemos às qualidades de prudência, justiça e idoneidade de governo que ilustram a tua pessoa, tomamo-la sob a protecção de São Pedro e nossa, e concedemos e confirmamos por autoridade apostólica ao teu excelso domínio o reino de Portugal com inteiras honras de reino e a dignidade que aos reis pertence, bem como todos os lugares que com o auxílio da graça celeste conquistaste das mãos dos Sarracenos e nos quais não podem reivindicar direitos os vizinhos príncipes cristãos. E para que mais te fervores em devoção e serviço ao príncipe dos apóstolos S. Pedro e à Santa Igreja de Roma, decidimos fazer a mesma concessão a teus herdeiros e, com a ajuda de Deus, prometemos defender-lha, quanto caiba em nosso apostólico magistério.