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Aquáriusul

Sou daqui deste povo que cheira a mar e sabe a fado

Aquáriusul

Sou daqui deste povo que cheira a mar e sabe a fado

Sab | 21.02.09

A Lenda das Rosas

lenda_rosas.jpg

Eis despois vem Dinis, que bem parece

Do bravo Afonso estirpe nobre e dina,

Com quem a fama grande se escurece

Da liberalidade alexandrina.

Com este o Reino próspero florece

(Alcançada já a paz áurea divina)

Em constituições, leis e costumes,

Na terra já tranquila claros lumes.

Lusíadas        Canto III - 96

Pensativo estava el-rei D. Diniz, que a História chamou de Lavrador, no balcão do castelo de Sabugal, olhando os campos verdejantes que se estendiam ao alcance de sua vista.

As medidas que tomara tinham reactivado a agricultura e o pinhal que mandara plantar nos areais de Leiria travava o avanço das areias para os campos agrícolas. Dele, cantaria mais tarde em verso, Fernando Pessoa, “na noite escreve em seu cantar de amigo o plantador de naus a haver…”.

 

Rei culto, poeta, de sensibilidade única, amante do seu povo, doía-lhe a miséria que grassava em redor, por isso a sua governação era organizativa e de desenvolvimento e não guerreira.

Tinha desposado excelente senhora, Infanta Isabel, dama de Aragão e de mui nobre família real da Ibéria e da Sicília.

Só lhe sobrepujava a beleza e a formosura de seus gestos, a bondade e a candura do trato para com os pobres que à volta do paço estendiam a mão à caridade.

 

E sempre Isabel se dirigia para o seu meio distribuindo esmolas e pão. Era querida pelo povo que a chamava de rainha santa.

Incomodado estava o soberano por ver a rainha sempre no seio do povo praticando misericórdia e afastando-se do paço real, não por maldade, mas por deveres reais, porque outros deveres clamavam por sua presença.

 

A neblina envolvia a manhã e o sol de envergonhado se escondia no seu seio, a rainha dirigia-se vagarosamente para a saída do paço, com o regaço cheio de pães para os seus pobres, toldou-lhe o passo o esposo real que a inquiriu brandamente:

-Que levais no regaço, real senhora?

Olhar baixo, a mão procurou auxílio no crucifixo que portava ao peito, onde Jesus repousa, e uma oração iluminou-lhe o semblante e o seu redor.

Com voz cristalina e segura, respondeu:

-Rosas, senhor, são rosas!

-Rosas, retorquiu D. Diniz surpreso, Rosas em Janeiro? Mostrai-mas!

 

D. Isabel abriu mansamente as pregas do vestido e de seu regaço caíram rosas brancas que de frescas e perfumadas encheram o ar de santo cheiro.

Nesse dia os pobres de Santa Isabel foram alimentados com o maná dos céus e o sol mostrou-se por entre a neblina iluminando de clara luz semelhante milagre.

Foi esta senhora beatificada em 1516 e canonizada em 1625, pelo serviço prestado à misericórdia e à fé, mas, se tal não fosse feito, ficaria na memória do povo sempre como Rainha Santa Isabel, porque de humildes a gratidão perdura.

Romântico milagre que perdura nas tradições e lendas de Portugal!

 

Alma Lusa

 

 

Dom | 08.02.09

A lenda da moura Saluquia.

Castelo de Moura II.JPG

E vós também, ó terras transtaganas,

Afamadas co’o dom da flava Ceres,

Obedeceis às forças mais que humanas,

Entregando-lhe os muros e os poderes;

Eu, lavrador Mouro, que te enganas,

Se sustentar a fértil terra queres!

Que Elvas e Moura e Serpa, conhecidas,

E Alcáçere-do-Sal estão rendidas.

Lusíadas        Canto III - 62

 
Corria forte tropa de cavaleiros pelas planícies do Ardila, com seus mantos brancos e pendão árabe de seu senhor, em direcção ao Castelo de Al-Manijah, guarida segura contra as constantes arremetidas dos cavaleiros cristãos, guerreiros destemidos e ávidos de recuperar as terras de seus antepassados. Comandava-a o príncipe Bráfama, guerreiro intrépido e de olhar atento ao mínimo detalhe da planície que se estendia ante si.
Esperava-o sua noiva, a bela moura Saluquia, alcaidessa do Castelo e filha de Abu-Assam, senhor poderoso do Alentejo islâmico, para as bodas, momento único na vida da bela princesa e de seu príncipe.
 
Ao longe, nuvem de pó anunciava a presença de cavaleiros. De pronto o príncipe mouro preparou-se para o combate que se avizinhava, alentando os seus guerreiros em nome de Allah.
Espadas em riste brilhando ao sol quente do Alentejo, começou a dura luta. De ambos os lados a bravura sobejava e aos poucos, um a um, os cavaleiros mouros tombavam no pó da planície, colorindo de vermelho o dourado da terra que ao longe se unia ao Guadiana.
Ardilosamente os cavaleiros cristãos trocaram os seus mantos pelos dos mouros e cavalgaram em direcção ao forte Castelo desfraldando o pendão do príncipe Bráfama.
 
Do alto da torre de menagem a bela Saluquia avistou a comitiva e o pendão familiar, e seu rosto iluminou-se de alegria e felicidade pelo seu noivo.
Mandou levantar a porta sarracena que protegia os fortes portões e de imediato abri-los para o seu amado.
Num ápice a cavalaria cristã entrou para o pátio de armas e de pronto a peleja começou para espanto dos mouros que tal não esperavam.
 
Rapidamente se recompuseram e a guarnição do castelo contra atacou com ferocidade. A bela Saluquia, que antes brilhava de felicidade, toldou seus olhos e lágrimas tristes correram pelo seu rosto. O seu amado estava morto. Do alto do eirado da torre contemplava a peleja, que em baixo sorria aos cristãos. Guerreiros tombavam, gritos enchiam os ares, uns de dor, outros de vitória…
Perante a iminência da derrota, a bela Saluquia preferiu a morte a cair nas mãos dos cavaleiros cristãos. Do alto da torre o seu esbelto corpo pairou nos ares, caindo em direcção aos seus fiéis servidores, que em baixo já repousavam. Sensibilizados, os cristãos, deram o nome de Moura ao castelo conquistado, nome que perdura até hoje, terras de Moura.
Assim, em noites de luar, a bela moura passeia no eirado da torre, perscrutando a planície em busca do seu amado e esperando saudosamente a sua volta para as bodas.
Romântica lenda que perdura nas tradições e lendas de Portugal!
 
Alma Lusa
 
 
Dom | 01.02.09

Crise!

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Sombrios são os tempos em que vivemos. Por todo o lado se fala no espectro do desemprego, que nesta sociedade liberal e global significa miséria, e é real, porque as empresas e os grandes grupos económicos tomam como medida de precaução, para acautelar os seus proventos, dispensar os seus trabalhadores que constam como números nas suas folhas de pagamentos.

Sombrio é o presente para muitas famílias. A estrutura económica da sociedade liberal alimenta-se do consumo/produção num ciclo, que deveria ser equilibrado, de criação de riqueza e de bem-estar para todos os intervenientes com a sombra protectora do Estado no seu papel de suporte social e garante da boa funcionalidade das instituições, privadas ou públicas. A todo o custo, este Estado, tende a manter, em desespero de causa, este sistema económico que mais uma vez mostrou o quão frágil e poroso é, injectando milhões em empresas ditas falidas que por causa da ganância e da especulação se defraudaram e àqueles que nelas acreditaram e nelas labutam.
Milhões que são pagos com o dinheiro do povo em impostos, povo esse que agora paga essa factura com o desemprego, para poder manter o status dos “vampiros” que continuam a pairar sobre as suas vitimas…
 
Sombrio é o futuro para o povo que vive com o salário da ignomínia e que agora se sente ameaçado. As mudanças de regimes opressivos sempre trouxeram miséria e sofrimento, ódios recalcados e vinganças, aos povos e às civilizações.
É exemplo disso a Revolução francesa e a Revolução bolchevique, entre outras que a História guarda nas páginas do seu livro Tempos Imemoriais.
Muitas civilizações passaram, muitas mudanças de regime e a Humanidade sempre venceu as vicissitudes subsequentes, embora repetindo os mesmos erros e os mesmos comportamentos, repetindo o ciclo uma e outra vez, qual trabalho de Sísifo.
É chegada a Hora!
 
Nem rei nem lei, nem paz nem guerra,
Define com perfil e ser
Este fulgor baço da terra
Que é a Humanidade a entristecer –
Brilho sem luz e sem arder,
Como o que o fogo-fátuo encerra.
 
Ninguém sabe que coisa quer.
Ninguém conhece que alma tem,
Nem o que é mal nem o que é bem.
(Que ânsia distante perto chora?)
Tudo é incerto e derradeiro.
Tudo é disperso, nada é inteiro.
Humanidade, hoje és nevoeiro…
É a Hora!
 
Fernando Pessoa
 
(neste poema, “Nevoeiro”, substituí Portugal por Humanidade)
 
Alma Lusa