Vereis amor da Pátria, não movido
De prémio vil, mas alto e quase eterno,
Que não é prémio vil ser conhecido
Por um pregão do ninho meu paterno.
Ouvi: vereis o nome engrandecido
Daqueles de quem sois senhor superno,
E julgareis qual é mais excelente,
Se ser do mundo rei, se de tal gente.
Lusíadas Canto I – 10
Grande era a azáfama no corredor dos passos perdidos, fidalgos em trajes coloridos e elegantes circulavam com ar matreiro, bandeando a cabeça em cumprimentos de ocasião.
As andanças da política propiciavam novas com o Rei menino, Sebastião da casa de Avis, neto de D. João III o Piedoso, homem de muita fé e fervoroso católico. O Rei menino, educado por Jesuítas, seguiu-lhe os mesmos passos e revelou-se uma personalidade de fé, devoto ao catolicismo, mas ao mesmo tempo, insensato, motivado pelo ambiente que se desenvolvia ao seu redor, hipocrisia e adulação. Assim cresceu o futuro Rei de Portugal, Sebastião. Dele cantou Camões, em presença:
E vós, ó bem-nascida segurança
Da lusitana antiga liberdade,
E não menos certíssima esperança
De aumento da pequena cristandade;
…
Ouvi: vereis o nome engrandecido
Daqueles de quem sois senhor superno,
E julgareis qual o mais excelente,
Se ser do mundo rei ou de tal gente.
O império estava feito, a fé inabalável, o sonho era cantado em verso e o olhar fixou-se em África, onde o infiel sarraceno fazia sortidas piratas sobre a navegação cristã. Conquistar o reino de Marrocos deu espaço de empresa em seu espírito jovem. O sonho falou mais alto do que a experiência de generais experimentados na arte da guerra, que em alta voz o avisavam sobre o mau juízo e insensatez de tal atitude. Triste sina a de quem não houve a verdade e conselho experimentado!
Foi triste a manhã nas planuras de Alcácer-Quibir, el-Rei D. Sebastião tinha desaparecido e o seu exército jazia quieto sob o sol escaldante do deserto. Portugal quedou-se silencioso ante tal tragédia e lágrimas pesadas encharcaram o chão! A longa noite ia começar.
Lusitânia destemida que enfrentaste as legiões de Roma, pariste Portugal a haver mundos por descobrir… cresceu, cumpriu… e desfaleceu em Alcácer-Quibir!
Chorai tágides que el-Rei D. Sebastião morreu!
Murmúrios clamam pelo encoberto que virá numa manhã de nevoeiro ressuscitar a Lusa Pátria da tristeza e da ignomínia e perdura na memória do tempo, do povo e do poeta:
Onde quer que, entre sombras e dizeres,
Jazas, remoto, sente-te sonhado,
E ergue-te do fundo de não-seres
Para teu novo fado!
E o povo nega-se a acalentar; quem vem viver a verdade que morreu D. Sebastião?
Lenda que perdura nas tradições e lendas de Portugal!
Alma Lusa
Fontes de informação:
Os Lusíadas, Canto I, estrofe 6 e 10, de Luís de Camões
A Mensagem, poema o Desejado e o Quinto Império, de Fernando Pessoa