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Aquáriusul

Sou daqui deste povo que cheira a mar e sabe a fado

Aquáriusul

Sou daqui deste povo que cheira a mar e sabe a fado

Seg | 20.04.09

Uma flor de verde pinho

verde_pinho.jpg

Eu podia chamar-te pátria minha
dar-te o mais lindo nome português
podia dar-te um nome de rainha
que este amor é de Pedro por Inês.

Mas não há forma não há verso não há leito
para este fogo amor para este rio.
Como dizer um coração fora do peito?
Meu amor transbordou. E eu sem navio.

Gostar de ti é um poema que não digo
que não há taça amor para este vinho
não há guitarra nem cantar de amigo
não há flor não há flor de verde pinho.

Não há barco nem trigo não há trevo
não há palavras para dizer esta canção.
Gostar de ti é um poema que não escrevo.
Que há um rio sem leito. E eu sem coração.

 
Manuel Alegre
 
Qua | 08.04.09

A lenda do Desejado!

desejado.jpg

 

Vereis amor da Pátria, não movido

De prémio vil, mas alto e quase eterno,

Que não é prémio vil ser conhecido

Por um pregão do ninho meu paterno.

Ouvi: vereis o nome engrandecido

Daqueles de quem sois senhor superno,

E julgareis qual é mais excelente,

Se ser do mundo rei, se de tal gente. 

Lusíadas          Canto I – 10

 
Grande era a azáfama no corredor dos passos perdidos, fidalgos em trajes coloridos e elegantes circulavam com ar matreiro, bandeando a cabeça em cumprimentos de ocasião.
As andanças da política propiciavam novas com o Rei menino, Sebastião da casa de Avis, neto de D. João III o Piedoso, homem de muita fé e fervoroso católico. O Rei menino, educado por Jesuítas, seguiu-lhe os mesmos passos e revelou-se uma personalidade de fé, devoto ao catolicismo, mas ao mesmo tempo, insensato, motivado pelo ambiente que se desenvolvia ao seu redor, hipocrisia e adulação. Assim cresceu o futuro Rei de Portugal, Sebastião. Dele cantou Camões, em presença:
 
E vós, ó bem-nascida segurança
Da lusitana antiga liberdade,
E não menos certíssima esperança
De aumento da pequena cristandade;
Ouvi: vereis o nome engrandecido
Daqueles de quem sois senhor superno,
E julgareis qual o mais excelente,
Se ser do mundo rei ou de tal gente.
 
O império estava feito, a fé inabalável, o sonho era cantado em verso e o olhar fixou-se em África, onde o infiel sarraceno fazia sortidas piratas sobre a navegação cristã. Conquistar o reino de Marrocos deu espaço de empresa em seu espírito jovem. O sonho falou mais alto do que a experiência de generais experimentados na arte da guerra, que em alta voz o avisavam sobre o mau juízo e insensatez de tal atitude. Triste sina a de quem não houve a verdade e conselho experimentado!
Foi triste a manhã nas planuras de Alcácer-Quibir, el-Rei D. Sebastião tinha desaparecido e o seu exército jazia quieto sob o sol escaldante do deserto. Portugal quedou-se silencioso ante tal tragédia e lágrimas pesadas encharcaram o chão! A longa noite ia começar.
Lusitânia destemida que enfrentaste as legiões de Roma, pariste Portugal a haver mundos por descobrir… cresceu, cumpriu… e desfaleceu em Alcácer-Quibir!
Chorai tágides que el-Rei D. Sebastião morreu!
Murmúrios clamam pelo encoberto que virá numa manhã de nevoeiro ressuscitar a Lusa Pátria da tristeza e da ignomínia e perdura na memória do tempo, do povo e do poeta:
 
Onde quer que, entre sombras e dizeres,
Jazas, remoto, sente-te sonhado,
E ergue-te do fundo de não-seres
Para teu novo fado!
 
E o povo nega-se a acalentar; quem vem viver a verdade que morreu D. Sebastião?
Lenda que perdura nas tradições e lendas de Portugal!
 
Alma Lusa
 
Fontes de informação:
Os Lusíadas, Canto I, estrofe 6 e 10, de Luís de Camões
A Mensagem, poema o Desejado e o Quinto Império, de Fernando Pessoa