Europa!
A Europa jaz, posta nos cotovelos:
De oriente a ocidente jaz, fitando,
E toldam-lhe românticos cabelos,
Olhos gregos, lembrando.
O cotovelo esquerdo é recuado;
O direito é em ângulo disposto.
Aquele diz Itália onde é pousado;
Este diz Inglaterra onde, afastado,
A mão sustenta, em que se apoia o rosto.
Fita, com olhar esfíngico e fatal,
O ocidente, futuro do passado.
O rosto com que fita é Portugal
Fernando Pessoa
Que legado deixaste ao mundo, Europa? A tua filosofia, a tua organização, a tua temeridade…
Com olhos gregos filosofaste e de mãos hábeis nasceu o legado da história, cérebros romanos organizaram, legislaram e construíram impérios, ao mar te fizeste com espírito lusitano e novos rumos e terras deste ao mundo…
“oh! maré nostrum, quanto do teu sal, são lágrimas dos meus olhos…”
E após, os teus filhos se espalharam pelos quatro cantos do mundo desbravando a terra que foi tua e o mar que navegaste, numa imensa teia de civilização.
Hoje, Europa, que te recolheste às tuas planícies e serranias, na beleza bucólica das tuas terras, verdes ou brancas, na multifacetada cultura que te alimenta a alma, tentas encontrar o caminho irmanando os teus povos numa união, que de natural nos separa pelos mundos que semeamos.
Que valores? Pelos tormentos e guerras passadas. Que exemplo? pela história e episódios alimentados.
Europa, quão de ti alimenta a minha alma, nascida e criada nas tuas entranhas! Clamas por teus filhos, clamas pelo teu passado que te pesa com o registo da História; ligado estou e separar-me não desejo, a terra clama por mim e de mim recebe a ligação que do passado me une. Renasce bem-aventurada mãe de heróis, portentosos guerreiros, cuja honra valia mais que a vida.
Foste cantada por poetas, filhos teus, escrita por romancistas, filhos teus, filósofos pensaram-te, filhos teus, construída por simples, homens rudes, filhos teus… que anseias hoje, Europa?
Dar novos mundos ao mundo? Já o fizeste.
Espalhar cultura? Já o fizeste?
Transmitir a fé? Já o fizeste.
Que te falta, então?
Olhar para a tua obra no mundo, que já foi teu, e pensar até que ponto és digna do que transmitiste e que culpas tens que assumir num teatro que cada vez se torna mais pequeno.
Consola-te, que no desespero da falta, não esqueças, que outros também participaram.
Europa, velha Europa, mãe de Pátrias!
Alma Lusa