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Aquáriusul

Sou daqui deste povo que cheira a mar e sabe a fado

Aquáriusul

Sou daqui deste povo que cheira a mar e sabe a fado

Sab | 08.09.12

O Ribeiro

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Segundo for esse sentimento intuitivo e os consequentes pensamentos, a força Divina de atuação autónoma será dirigida por ele para bons ou maus efeitos! Eis a responsabilidade com que o ser humano tem que arcar! Nisso encontra-se também seu livre arbítrio!

Abdruschin

Corria devagar o ribeiro que a pressa de chegar ao mar era pouca. Deambulava por prados verdes e de vez em vez caía de alturas para mergulhar na cálida água de bacias formadas pela arte do tempo. Esgueirava-se por entre a vegetação cerrada das margens, usufruindo da sombra amiga que lhe ofertavam. Cálidas e cristalinas eram as suas águas quando o sol as beijava, fresca quando a sombra da vegetação as cobria. A tudo isto, Alphek, observava com olhar tranquilo, perscrutando o movimento alegre e ladino de seres elementares, que só o seu olhar espiritual podia ver. Há muito que o ser humano tinha perdido esta dádiva, por sua própria vontade, ao alimentar a arrogância “do querer saber melhor” e afastar-se do auxílio, rejeitando-o, dos seus guias. Na paisagem só o barulho da brisa e o marulhar do ribeiro, misturado aqui e acolá pelo trinar de aves canoras, se faziam ouvir. Tranquilidade, convidando a introspecção.

E assim, Alphek, pensava:

“Para onde caminhas Humanidade? Porque escolheste o caminho para baixo, o caminho que conduz à perdição, alimentas vaidades e arrogância, fechaste o teu espírito à condução de guias espirituais, que pelo amor do Altíssimo te foram disponibilizados. Escolheste a face negra da dualidade da vida e nas suas profundezas alimentas a miséria. Corres de olhar cerrado para o precipício, surda aos avisos, desprovida de Amor! Ninguém se furta à Lei da gravidade e quando chegar a hora, que virá, o peso das tuas ações envolver-te-ão num abraço fatal. Toda a materialidade, a seu tempo, será destruída e renovada para um novo ciclo de vida, não queiras estar cá quando esse tempo chegar, porque a destruição também te atingirá. Tiveras escolhido o caminho para o Alto e a paz e alegria perenes seriam o teu galardão. Vida eterna, porque a lei da gravidade, inflexível e no cumprimento da Vontade do Altíssimo, teria elevado o teu espírito para os Jardins Eternos, onde pertences, em vez de para baixo para as profundidades escuras da matéria mais densa, onde o fenecer é lei. Lá, no Paraíso, só o sentido da vida é real, e o equilíbrio é lei que alimenta e progride. Felizes os que chegarem perto dos degraus do trono do Altíssimo, a esses é permitido usufruir das alegrias dos justos e do Seu Amor.”

O toque de um sino repicou à distância, era hora do meio-dia e o seu passeio estava terminado. Devagar levantou-se e com olhar embevecido olhou em redor a despedir-se das pequenas criaturas que alegremente acenavam. A face do ancião expressava bem o equilíbrio entre o seu corpo e o espírito. Naquele recanto do mundo, a sua ilha, as sombras escuras ainda não tinham chegado, mas o tempo se encarregaria de as conduzir pela mão do homem. O semblante de Alphek sombreou por momentos e por momentos anteviu as imagens desagradáveis desse futuro, que de longínquo estava perto.

A extensão do prado verde terminava no penhasco, fundindo-se no horizonte numa mescla de cores, verde e azul, matizes alimentadas pela luz do astro rei que no etéreo irradiava a sua benfazeja luz para sustento e alegria de suas criaturas. No momento, a Ilha era a fortaleza da Palavra e Alphek o seu guardião; longos eram os tentáculos que se agitavam no outro lado do mar, cinzentos e obscuros, no meio da neblina opressiva e cerrada, desordenadamente traduziam o caminho que os seus mentores seguiam.

E o caminho era longo…

Alma Lusa

in Eram verdes os campos

Sab | 01.09.12

Dualidade da vida!

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Existe apenas um Criador, um Deus, e portanto também apenas uma única força que perflui tudo que existe e o faz viver e progredir! Essa força Divina, pura e criadora, flui constantemente através de toda a Criação, reside nela e é inseparável da mesma.

Abdruschin

Amanhecia, o sol espreitava no horizonte e devagar subia no etéreo, resplandecendo sobre o manto de água que circundava a Ilha, qual pedra preciosa engastada em jóia dourada. Cedo levantava-se o sumo-sacerdote e, ritmicamente, fazia o seu passeio matinal. Descia até ao povoado, casas brancas engastadas na natureza, misto de cor e harmonia arquitetural. O respeito pela natureza era bem visível. O abate de árvores para a construção da área residencial era mínimo, e só as zonas onde as habitações e os caminhos eram necessários, seriam limpas. Entre as habitações, espaçadas umas das outras, sempre se mantinha o arvoredo, fazendo sobressair a sua brancura; daí o nome de Ilha Branca. Em todo o lado reinava o equilíbrio, o povoado era limpo, as pessoas alegres, a azáfama começava cedo e o burburinho dos afazeres e das conversas elevava-se como o sol no horizonte. O sumo-sacerdote estava acompanhado de Sikar, seu pupilo e sacerdote, ambos caminhavam lentamente em amena conversa.

-Tanta é a beleza que nos rodeia que nos esquecemos de a apreciar pelo hábito, disse Sikar, olhando em redor com desvelo.

Alphek passou o olhar pela paisagem exuberante e multi-colorida, como a certificar-se do que o seu pupilo dissera.

- É verdade. Por isso a natureza das coisas é dual, a vida é comparativa, só assim podemos ter a noção e a perspetiva. Fomos providos sabiamente pelo Criador com o livre arbítrio para a nossa evolução e formação, no entanto, esta característica que é espiritual está ligada a outra que é a responsabilidade. Para fazermos escolhas e tomar decisões temos que ter opções, só assim a livre decisão pode funcionar e a responsabilidade inerente a essa decisão. A decisão é nossa por direito e a responsabilidade também.

- Compara a vida a uma moeda. A moeda tem duas faces, impossível ter uma ou separá-las. A espiritualidade e a intuição, a materialidade e o intelecto. A beleza é apreciada e valorizada porque existe o feio como comparativo. Todos os sentimentos existentes neste plano da Criação têm uma função de utilidade e estes sentimentos são ligados pelo equilíbrio. O equilíbrio é fundamental na atuação. Repara na natureza, é equilíbrio puro, por isso as nossas leis e comportamento se regem pelas leis da Criação que expressam a Vontade criadora do Altíssimo.

No mar pequenas estrelas acendiam-se e apagavam-se, reflexos do sol no balanço da ondulação que se envolvia na areia dourada da praia.

- A falta de equilíbrio está a fazer com que o egoísmo predomine entre os homens da grande cidade.

Sikar olhava para o horizonte como que a querer visualizar a grande cidade, que no outro lado do mar, prosperava desordenadamente.

- Tudo o que está debaixo dos céus é bom, desde que em equilíbrio! Retrucou Alphek: Egoísmo, estado humano indispensável para a evolução na sociedade e no seu caminhar individual no sentido espiritual. Ferramenta indispensável na tecedura complexa que é o estado comportamental do individuo; como tudo o que se rege pelas leis naturais também o egoísmo tem que estar em equilíbrio sob pena de adulterar e desviar o espírito humano de sua peregrinação.

Infelizmente, como tudo no comportamento humano, o egoísmo foi exacerbado e adulterado, deixando de cumprir o que lhe estava reservado, auxiliar o individuo na sua evolução espiritual! Património da alma acumulado por experiência, o egoísmo não dá, só acumula e, como a moeda, tem a outra face que é o altruísmo, a partilha do saber acumulado pelo egoísmo. Entre o egoísmo e o altruísmo, ambos necessários à evolução espiritual, está o equilíbrio; é impossível dar o saber, o conhecimento, os valores adquiridos, acumulado por alguém, estes valores fazem parte do património espiritual e cultural, é-lhe intrínseco, fruto da sua experiência vivencial, é a sua riqueza, diferente, evidentemente, de pessoa para pessoa. Como seres espirituais que somos, a individualidade é a nossa referência.

Para equilibrar o egoísmo existe o altruísmo que partilha o saber acumulado pelo egoísmo, num misto de amor e doação ao próximo. O saber acumulado se não for partilhado de nada serve, nem para o seu proprietário. É como o planeta, se este, através da sua actividade vulcânica não aliviasse a tensão no seu interior, explodiria: equilíbrio. Neste plano material em que vivemos, necessitamos do intelecto e da carga sentimental a ele ligada para a nossa evolução espiritual, por isso, o controlo das emoções e dos sentimentos ligados à matéria ser necessário, se esta nos dominar, tornar-nos-emos mais pesados e maior dificuldade teremos no regresso à Pátria, aos jardins eternos, de onde provimos.

Há três pilares básicos no nosso comportamento que não devemos descurar:

- Olhar dentro da nossa alma e rever o resultado das nossas ações!

- Confidenciar o que nos vai na alma ao nosso melhor amigo, o nosso guia e protector espiritual!

- Não mentir a nós próprios, este é o primeiro passo para a verdade!

Se não descurarmos estes procedimentos, então o equilíbrio manter-se-á e seremos felizes, só então estaremos capacitados para ajudar o nosso semelhante, em verdade.

Por momentos silenciaram a olhar a imensidão azul à sua frente, perscrutavam sinais dos elementos da comitiva de Neptuno, a eles tão queridos. - Mestre, quando me relatarás os acontecimentos de tua viagem? Alpkek, o sumo-sacerdote, sorriu com tristeza.

- Mais tarde, Sikar, mais tarde…

Alegres e confiantes regressaram para se dedicarem aos seus afazeres no Templo, pela velha escadaria, antiga como o tempo, incrustada na rocha e que entrava na montanha em direção ao alto.

Alma Lusa