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Aquáriusul

Sou daqui deste povo que cheira a mar e sabe a fado

Aquáriusul

Sou daqui deste povo que cheira a mar e sabe a fado

Sex | 08.03.13

Misericórdia

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Bem-aventurados os misericordiosos, pois eles alcançarão misericórdia! Não vos enganeis, entretanto, praticando falsa misericórdia, mas considerai se a vossa boa vontade é verdadeiramente proveitosa aos homens!

Jesus

“Sermão da Montanha”

O amplo salão das audiências abria-se ao mar através de largas aberturas na rocha em jeito de janelas trabalhadas com esmero e arte. A altura do salão em relação ao mar permitia ouvir, ritmicamente, o bater das ondas nas falésias, num repetitivo som cavo e calmo vindo de distâncias, trazia ao espírito a universalidade da união entre a matéria e a espiritualidade.

Alphek, de pé, com o olhar preso no horizonte, distendia o seu pensamento na amplitude da ação humana, nos conceitos e entendimento da intelectualidade, necessária à atuação nas matérias, e na intuição e ação do espírito que brandamente moldava o efeito da intelectualidade.

Tudo estava conforme a lei e em equilíbrio! Vibrava a Criação em uníssono na Vontade e na Lei do Criador!

A beleza da paisagem envolvente, o silêncio cortado pelos sons da natureza, o pensamento a divagar por planícies imensas de sabedoria vetusta, a tranquilidade do espírito e do corpo, preenchiam a evolução do pensamento do sumo-sacerdote sobre a atuação do homem na correlação, Justiça e Amor.

Fazia-se sentir nos homens mais piedosos, cumpridores da Lei, uma atitude de distância espiritual dos que, no efeito da reciprocidade das ações, labutavam nos seus afazeres diários com dificuldades e mal disfarçada angústia, sofrimentos motivados pela tirania dos que em poder dominavam e dos efeitos da reciprocidade que em retorno faziam cumprimento da Lei; mesclavam-se a injustiça e a justiça numa simbiose de ação difícil de entender, até para os mais esclarecidos, originando ações de entendimento individual que levavam a extremos de individualidade e a divisões no cumprimento.

Tirania e injustiça originam gritos de revolta dos que, em sofrimento, lutam pelo equilíbrio; no tempo a história regista os acontecimentos do passado, que no futuro devem ser remidos, num ciclo de eterna atividade e contínua mudança!

Subiam lampejos de luz para o alto na procura de auxílio e misericórdia e outros tantos pensamentos revoltados pela insatisfação dos desejos pessoais e anseios de poder egoístico que em desequilíbrio mais fomentavam a injustiça e alimentavam o desequilíbrio.

Marasmo e a confusão dos tempos!

A tudo, o sumo-sacerdote, assistia na sua espiritualidade plena de misericórdia para com os que sofriam e, pela Vontade do Altíssimo, o Misericordioso, tinham direito ao perdão, que só é devido a quem prevarica e reconhece; as suas peregrinações tinham-no provido de vivências experienciais que lhe permitiam sentir a tristeza e angústia dos seres humanos e em misericórdia compartilhava o seu sofrimento, independentemente da culpa, já que a justiça é Divina e pela Lei será cumprida, não da sociedade humana que se rege por leis, permeáveis aos conceitos e desejos de quem detém o poder, ou do individuo, que em verdade ou não, toma uma atitude de sobranceria sem olhar para si, arguto ao erro do seu semelhante.

Só no perdão reside a misericórdia, equilíbrio universal, só na vivência se pode sentir o sofrimento do próximo, que nos não é alheio, e assim remir os muitos fios do destino que indubitavelmente nos ligam ao ciclo da reciprocidade, com ou sem nosso conhecimento.

O Altíssimo, o Misericordioso, é Deus de Justiça e Amor, a Sua Perfeição atua no equilíbrio da Justiça e do Amor, inseparáveis desde sempre porque desde sempre estão ligadas pela atuação unigénita!

O cumprimento incondicional da Lei da Reciprocidade pressupõe, indubitavelmente, a Misericórdia, para salvação de todos os que, perdidos, anseiam pelo caminho e pela verdade, e fortalecimento dos que já se encontram no caminho da Pátria! Atentos devem estar os justos, para que no caminho, em misericórdia, possam ajudar o seu semelhante a ultrapassar as muitas vicissitudes que se lhes deparam na vivência.

Alphek aproximou-se das janelas e olhou para baixo onde as águas do oceano se desfaziam em novelos brancos de pura espuma contra as rochas trabalhadas pelo tempo, por um momento os seus pensamentos foram desviados para o deleite de tão bela paisagem, que na sua pujança irradiavam força e equilíbrio.

No céu, num bailado coreografado por mão invisível, as aves rodopiavam e o seu canto fazia-se ouvir em sintonia com o bramir do mar.

Vibrava a natureza e os servos do Altíssimo, em trabalho e amor.

Em silêncio, as palavras do Livro ecoaram na alma do sumo-sacerdote:

“Sem um verdadeiro vivenciar não há amadurecimento espiritual! Obrigai-vos, por isso, com toda a força para o vivenciar! Familiarizai-vos com a penúria e os sofrimentos alheios, e despertai dessa forma em vós a misericórdia.”

Só ao Altíssimo é devido a Justiça e a Clemência!

Alma Lusa