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Aquáriusul

Sou daqui deste povo que cheira a mar e sabe a fado

Aquáriusul

Sou daqui deste povo que cheira a mar e sabe a fado

Ter | 28.01.14

Crise; esperança!

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”Nem empregador nem os empregados têm culpa disso, nem o capital nem a sua falta, nem a igreja nem o Estado, nem as diferentes nações, mas tão-somente a sintonização errada das pessoas, individualmente, fez com que tudo chegasse a tanto!” 

Abdruschin

 

A Europa, democrática e solidária, geme sob os lamentos de Ophelia, sufocados pelo grito indignado dos injustiçados, tiranizados pelo jugo cego e egocêntrico de um liberalismo económico, carrasco do espirito social, que construiu e uniu uma Europa tirana e devastada, numa Europa moderna e social.

Com o tempo que muda, também muda a humana vontade, alimentando valores ancestrais, nem sempre dignos, mas repetindo-se num ciclo vicioso, em que a experiência serve para aprimorar o que de mau foi feito para mau continuar.

Os sistemas mudam, a indigência espiritual e humana mantém-se, e o ciclo da história repete-se, não nas mesmas ações, mas nos efeitos.

Assim são os ciclos económicos e os sistemas que os sustentam, erros do passado a repetirem-se numa espiral estratificada na aspereza do comportamento humano, que a tudo corrói e conduz para a destruição.

O homem é prisioneiro do sistema, organizado ao pormenor, qualquer ato de liberdade está sujeito aos parâmetros da sua lei, enredado no turbilhão do consumismo e dependência, gerador de desperdício e angústia, em verdade, o homem vive infeliz. Quem é dependente não é livre e a sociedade, através do sistema, criou essa dependência, retirando ao indivíduo a dignidade do trabalho participativo e criando o estatuto de trabalho automatizado, esforçado e obediente, autómatos numa linha de produção sistemática e repetitiva, descartável e numerada.

O olhar não contempla o horizonte na busca do sonho, mas sim o vazio cinzento, nublado, num mar de incertezas e sem porto de abrigo à vista. Quem não é verdadeiramente livre, não é feliz; mas liberdade pressupõe responsabilidade e olhar altruísta para com o outro, um sopro de espiritualidade e infinidade.

O legado da Europa ao mundo deveria aprimorar-se para benefício e exemplo de uma humanidade sedenta de valores espirituais e civilizacionais; as eras que personificam o pensamento filosófico mudam ao sabor da necessidade do conhecimento, da intrínseca humanização do meio natural, na pacificação da ciência com a espiritualidade, ciclos que catapultam o homem para o cumprimento do seu destino.

O planeta reage aos flagelos que a raça humana lhe inflige, o avanço urbano e demográfico, assinatura indelével de progresso, rodeado de bairros indigentes, sufocam o espaço vital das espécies autóctones, criando uma convivência perigosa para estes, já que o predador humano progressista, senhor de recursos que o outro animal não tem, sai sempre a ganhar, de vítima passa a assassino num ápice.

A poluição, a pesca intensiva e selvagem, alimento para uma indústria ávida de produto, desequilibra as espécies e cria devastação nos oceanos e seus recursos marinhos.

Salvem os oceanos!

A necessidade de alimentar tantas bocas e o sistema, criaram uma agricultura e pecuária, intensiva e reclamadora de espaço vital, de uma indústria transformadora e tecnológica altamente eficiente, tudo preparado para satisfazer os desejos de classes abastadas e criar anseio nos desvalidos.

Os novelos de fumo negro e tóxico são expelidos para a atmosfera como símbolo da inteligência humana, os altos edifícios apontam aos céus os seus dedos ameaçadores, qual torre de Babel que no mundo antigo fez história, numa atitude grotesca de vaidade e soberba.

Salvem o planeta!

A política não se comove e, em nome de valores democráticos, [os antigos gregos surpreender-se-iam deste estado de coisas com o nome democracia, que eles criaram, exatamente para que o exercício da convivência pudesse ser mais equilibrado] zurzem impostos e outras taxas para o contribuinte pagar os desvarios orçamentais que eles, políticos, no passado criaram, por motivos eleitoralistas, satisfação de clientelas, corrupção, oportunismos e também incompetência. Nada de novo, pois já na república romana estes desvairados cresciam como cogumelos, venenosos e dignos de cuidados.

Salvem a política!

“A origem de todo o mal provém da propriedade privada”¹, nem tanto, mas também. A posse jaz ancorada na espiritualidade humana, personifica o egoísmo, que devidamente equilibrado torna-se fruto de desenvolvimento e progresso, sustentável numa sociedade partilhada e humanista.

Não é o que se passa! O anseio pelo poder e o domínio sobre o seu semelhante, leva ao desequilíbrio relacional criando eventos de tensões que descambam, mais tarde ou mais cedo, em episódios violentos e fraturantes criando épocas negras no livro do legado da História.

“Liberdade, Igualdade, Fraternidade”², um anseio genuíno no coração de muitos, conspurcado pelo sibilar da vingança e atos menos próprios da dignidade humana, por outros. Um sopro refrescante numa sociedade balofa e desumanizada, onde o conceito de amor ao próximo se lia nos templos de maneira metódica e sem alma, como mero exercício do dever e espirito de resignação, mas arredado dos círculos nobres e burgueses, cujo olhar se focava para dentro, onde a abundância se sentava à mesa do rei.

“Considerando afinal que tudo, mas tudo mesmo, só fora erigido sobre o dinheiro, sobre o poder e os valores terrenos, chegar-se-á à conclusão de que a miséria atual nada tem de surpreendente e que o atual desmoronamento está condicionado pelas próprias leis da Criação!”³

“Nem só de pão vive o homem”, mas numa sociedade equitativa, em que o pão que alimenta o corpo é também o pão que alimenta a alma. A persecução da espiritualidade é uma necessidade ancestral do homem, desde o seu estado primitivo ao seu estado de intelectualidade contemporânea.

A ciência não se desassocia dessa ligação e procura-a, afincadamente, no seu pesquisar, e vão-se desenrolando os mistérios e o desconhecido, dando voz às leis naturais, como elo unificador do universo, resplandecentes no seu atuar, “a formação de todos os sistemas ordenados são contingência da vontade de Deus”, demanda cósmica absorvida pelo anseio do homem de encontrar o caminho que o leva a entender a obra e a sua origem, “se as outras estrelas são o centro de outros sistemas como o nosso, tendo sido formados de acordo com o sábio conselho, devem estar todos sujeitos ao domínio do Uno.”.

O pensamento racional e lógico a fazer a ponte para a espiritualidade, libertado de dogmas e conceitos religiosos que danificaram a imagem do ser e o libertaram para uma nova época.

“Assim, pois, é incompleta a atividade de um cérebro, essa pedra fundamental e instrumento da ciência; e essa limitação se faz sentir logicamente também através das obras que constrói, isto é, através de todas as ciências. Por conseguinte, a ciência é útil como complemento, para uma compreensão melhor, para subdividir e classificar tudo quanto ela recebe pronto da força criadora precedente, tendo porém que malograr incondicionalmente, se pretender se arrogar a guia ou crítica, enquanto se prender, como até agora, tão firmemente ao raciocínio, isto é, à faculdade de compreensão do cérebro.”³

Numa sociedade altamente complexa, dinamizada e gerida pelo comportamento humano, a mudança nunca se fará de livre vontade, algures, o ciclo vicioso [ação, culpa, remissão] deverá ser quebrado e o equilíbrio restabelecido; enquanto a chama da fogueira se mantiver acesa, o homem anseia, o homem sonha. Senhor, falta cumprir-se a hora.

Perseguir o sonho no horizonte não é loucura, é caminhar pela eternidade!

 

Alma Lusa

 

¹ Jean-Jacques Rousseau

² Revolução francesa

³ Abdruschin

⁴ Jesus

⁵ Isaac Newton