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Aquáriusul

Sou daqui deste povo que cheira a mar e sabe a fado

Aquáriusul

Sou daqui deste povo que cheira a mar e sabe a fado

Seg | 18.08.14

Intolerância

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“Mais alto te pretendo e mais humilde; à tolerância que envergonha substitui o cálido interesse pedagógico, o gosto fraternal de aprender e de guiar; não levantes barreiras, mas abate-as; se consideras pior o caminho dos outros vai junto deles, aconselha-os e guia-os; não os deixes errar só porque os dominarias, se quisesses; transforma em forte, viva chama o que a pouco e pouco se dirige a não ser mais do que um gelado desdém. - Agostinho da Silva”

Ao longo do tempo a humanidade construiu barreiras ao livre pensamento, através da defesa de conceitos assimilados e desenvolvidos de filosofias, politicas ou religiosas, e estratégias de domínio.

A natureza não se acomoda ao entendimento humano, mas rege-se pelas leis do domínio cósmico; não se iluda o ser humano [ele é parte integrante dessas leis] pensando que o abstrato das fronteiras do ser, lhe permite seguir um caminho de irregularidades de modo impune.

Todos os conceitos são mutáveis no tempo e no evoluir do pensamento, a sua estratificação individual é um obstáculo ao desenvolvimento do ser e um retrocesso civilizacional.

Rigidez é sempre errada, por ser inatural e também por não estar em harmonia com as leis primordiais da Criação, as quais condicionam a movimentação (¹)

Devemos ser prestimosos, tolerantes e cientes dos nossos valores e enquadrá-los nos valores do outro, sem abdicar dos nossos princípios, na base do entendimento e do respeito mútuo.

Exemplo vivo de intolerância é a hostilidade entre as diversas formas de religião, adorando o mesmo Deus, digladiam-se numa arena ilusória, na defesa dos conceitos que cada um tem do divino, cada qual estratificando-o à sua imagem; mais incoerente é, que os princípios fundamentais que defendem, não se afastam assim tanto uns dos outros e com o sentido na tolerância muitas das divisões que persistem se desvaneceriam.

Não é lícito ao homem que através desta atitude degrade a imagem do divino perante o seu semelhante.

“Fizestes de cada Mensagem de Deus uma religião! Para vossa comodidade! E isso foi errado!” (²)

É um paradoxo, não faz sentido para um observador livre e independente esta luta…, a não ser que queiram defender o estatuto e o poder adquiridos entre os seus povos, mantendo o status-quo, já que o divino não muda uma lei à origem da construção da Criação, comumente aceite por todas, para se acomodar à vontade humana.

As cúpulas de cada instituição religiosa [ou politica, os efeitos são os mesmos] mantêm os seus devotos numa subserviência que danifica, de forma permanente, a espiritualidade e a sua evolução natural nos caminhos da peregrinação.

O poder da livre decisão fica toldado e, consequentemente, a liberdade de expressão e vivencialidade não desencadeiam os mecanismos do livre arbítrio, fundamental para o crescimento saudável do ser humano e emocionalmente em equilíbrio.

É um erro que a individualidade seja substituída pela submissão [esta não é uma característica do ser humano] para a manutenção de determinadas correntes, antes pelo contrário, na diversidade encontra-se a riqueza do progresso e o reconhecimento de sintomas desviantes, que previamente detetados, não evoluam para o desequilíbrio.

“Já será grande a tua obra se tiveres conseguido levar a tolerância ao espírito dos que vivem em volta; tolerância que não seja feita de indiferença, da cinzenta igualdade que o mundo apresenta aos olhos que não veem e às mãos que não agem; tolerância que, afirmando o que pensa, ainda nas horas mais perigosas, se coíba de eliminar o adversário e tenha sempre presente a diferença das almas e dos hábitos;” (³)

Na matéria não há verdades absolutas, todo o desenvolvimento se permuta entre si, criando novas formas que ondulam como a neblina ao sabor do vento; a beleza da relatividade do ser é que este tem sempre a possibilidade de evoluir no conhecimento, sem chegar nunca à assimilação do todo.

“Se descobrirmos uma teoria completa, por fim todos nós, e não apenas alguns cientistas, seremos capazes de a perceber na sua generalidade. Nessa altura todos seremos capazes de participar na discussão das razões por que o universo existe. Se descobrirmos a resposta a essa questão, teremos obtido o triunfo máximo da razão humana. Porque então conheceremos a mente de Deus.” (⁴)

Há sempre um caminho para desbravar e a satisfação da descoberta, que em cada curva nos surpreende e estimula a seguir em frente, num movimento eterno, lei que fundamenta a obra da Criação.

Os espaços infindos não têm fronteiras, nem o sonho, que é perseguido no horizonte, não como loucura, mas peregrinação para a eternidade.

A experiência vivencial é um património individual indefetível, para a tomada de decisões futuras, na construção de sociedades, instituições ou de modo individual.

A história reserva-nos o seu acervo, não temos necessidade de repetir o erro por falta de informação, estamos providos de milénios de experiência histórica e individual.

No entanto, a cada momento, repetimos os mesmos erros históricos, num trabalho repetido e cansativo, sempre de forma diferente, aprimorando a eficácia da sua execução, mas recebendo sempre os mesmos frutos, de início doces, amargos no fim.

Abusos e barbaridades que não deveriam ser esquecidos tão depressa, mas que se devia fazer voltar à memória como advertência, sempre de novo, também nos julgamentos de hoje, principalmente porque os que outrora assim agiam, cometiam tais incongruências aparentando a melhor boa-fé e o mais pleno direito.” (⁵)

Apesar das muitas contrariedades que se nos deparam no quotidiano, fruto da convivência emocional entre os seres, é perene a tecedura das relações que daí advêm e a sua inconstância ao longo do tempo.

Vale a pena não desistir da esperança, da felicidade… do sonho!

 

Alma Lusa

 ___________________________

(¹) Abdruschin, escritor. “Exortações”

(²) Abdruschin, escritor. “Na luz da Verdade – Mensagem do Graal”

(³) Agostinho da Silva, filósofo, pedagogo. “Considerações”

(⁴) Stephen W. Hawking, cientista. “A teoria de tudo”

(⁵) Abdruschin, escritor. “Na luz da Verdade – Mensagem do Graal”