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Aquáriusul

Sou daqui deste povo que cheira a mar e sabe a fado

Aquáriusul

Sou daqui deste povo que cheira a mar e sabe a fado

Sab | 03.01.15

Religião e ciência

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As religiões mundividentes do Livro [abraâmicas], Judaísmo, Cristianismo e Islamismo, professam a mesma crença no Deus Único, Senhor e Criador de todos os mundos, da Criação visível e invisível.

Sob diferentes conceitos, cada uma delas interpreta-O, com base nos seus interesses e conhecimento, nos ensinamentos do seu profeta (s), adaptando-os na sua capacidade e sagacidade intelectual, emoldurando-O no seu contexto de universo, ou seja, cada uma delas criou-O à sua semelhança.

Arrogância é uma palavra suave para descrever tal devaneio! Como pode um ser criado, como é a espécie humana, construir a imagem do seu Criador?

À semelhança dos nossos conceitos humano-terrenais, da nossa ciência e erudição, quisemos construir a imagem Dele, e sobre essa imagem, estudar e dimensionar a Criação até ao início dos tempos e projetar na sociedade os valores individuais de cada uma delas.

Mesmo entre os crentes monoteístas, o conceito do divino encontra-se separado por interpretações, muitas vezes impercetíveis, mas que na ação se desenvolve em caminhos muito diferentes e colapsáveis entre si, “Deus é tudo”, “Deus está em tudo”, discussões filosóficas irredutíveis, grupos que se formam, e o sentido intuitivo das asseverações perde-se na voragem do discurso dialético.

O sentimento de posse [característica humana] e exclusividade de cada religião, em relação ao Criador, condu-los para o campo hostil de defesa do seu princípio e valores, a história é fértil em episódios bélicos entre religiões e dentro de si próprias, sempre no domínio da razão e em nome Dele.

Face ao conceito de Deus pessoal, presente de modo individual para cada um e protetor, opõe-se o de Deus transcendente, em distâncias longínquas e a reger as Criações com leis, que a ciência sumamente divulga e aplica, fruto da Sua vontade e intemporalidade, leis que abrangem universos numa atividade homogénea e imutável, entre outros conceitos, que num lampejo fátuo se perdem na dobra do tempo.

“Partiram aí de uma tese errada de seu raciocínio de que Deus, de modo inteiramente pessoal, se interessa por elas, cortejando-as e envolvendo-as também protetoramente, sem pensar que elas próprias devem fazer tudo, para conseguir a ligação indispensável, o que inconscientemente, de acordo com as leis da Criação, sempre preencheram na verdadeira oração! Não quiseram acreditar de bom grado que só as leis de Deus na Criação as envolvem e que, atuando automaticamente desencadeiam cada recompensa e cada castigo.”

[Mensagem do Graal, Onipresença vol. 3, Abdruschin]

No contexto criacional, a ciência e a religião estão de acordo, duas sentenças textuais diferentes, o mesmo propósito, o início da Criação [ou Universo]:

“Haja luz”, vinda do fundo do tempo e narrada pela tradição, registada no velho testamento.

 “Big bang” dizem os cientistas em teoria, cimentada em estudos e observações devidamente certificadas e como tese unanimemente aceite [até prova em contrário, a verdade na matéria é relativa, aplicável a um período temporal, não há verdades absolutas, o registo da História exemplifica-o], no entanto, a ciência ficou com uma questão pendente na fronteira: e antes do big bang? Porque existe o Universo?

Vários cientistas admitem que a resposta a esta questão, não só é complexa e presentemente muito longe de solução [não está em debate], como também teriam que admitir, como fator equacional, a existência do Criador [um passo de cada vez].

Aproximam-se mais uma vez da religião, a sentença “Haja luz” foi pronunciada pelo Criador ⁽¹⁾:

“No princípio criou Deus os céus e a terra… E disse Deus: Haja luz. E houve luz.”

[Velho testamento, Génesis]

Os cientistas também se movem pela fé, se não fora assim, como poderia o homem sonhar e a obra nascer? E a ciência admite-o para o futuro:

“No entanto, se descobrirmos uma teoria completa, por fim todos nós, e não apenas alguns cientistas, seremos capazes de a perceber na sua generalidade. Nessa altura todos seremos capazes de participar na discussão das razões por que o universo existe. Se descobrirmos a resposta a essa questão, teremos obtido o triunfo máximo da razão humana, porque então conheceremos a mente de Deus.”

[A teoria de tudo, Stephen Hawking]

Muita matéria ainda há a ser discutida pela ciência e religião, no que diz respeito ao Universo e suas miríades de galáxias e outros, eventuais universos paralelos ou universos de matérias outras, que pejam os nossos céus e a nossa imaginação. O peso esmagador do espaço contrasta com a limitação da nossa presença civilizacional neste planeta, macerado pela nossa atuação, que de benéfica nada tem, em abono da verdade, poderíamos fazer melhor se, no cumprimento das leis universais, o nosso comportamento fosse direcionado, numa sociedade equitativa e evolutiva, no respeito ao outro num espírito de colaboração e evolução.

“Acredito que o homem não é o mais perfeito dos seres, mas apenas mais um, tendo por um lado, muitos graus de seres inferiores a si, e por outro, muitos graus de seres superiores a ele. Do mesmo modo, quando lanço a minha imaginação para lá do nosso sistema de planetas, além das estrelas fixas visíveis, através do espaço que, em todos os sentidos, é infinito, concebo que ele esteja pejado de sóis como o nosso, cada um com um coro de mundos rodeando-o pela eternidade, então, esta pequena bola na qual me movo, me parece… quase Nada e eu próprio menos que nada…”

[Articles of belief, Benjamin Franklin]

E embora o debate não se encontre esgotado, pois que a decisão sociopolítica é uma componente da sociedade civil, pela via dos direitos humanos e liberdade de escolha, é crucial que o entendimento opcional seja animado de respeito mútuo, responsável e sério. É na diferença que o homem evolui, não no seguidismo dormente que aprisiona a alma e a sua missão.

“As democracias ocidentais e os direitos humanos são uma aquisição da cultura ocidental e do espírito cristão, embora em tensão dialética. É esta tensão que sempre existirá em Religião e Política. A História tem sempre a última palavra e, em meu entender, não houve nem haverá História sem Religião. Acredito que Deus existe.”

[Deus existe? Carreira das Neves, teólogo]

Tantas imagens e conceitos, tantos livros, profetas e erudição, conflitos que desgastam a capacidade criativa humana, numa massiva produção em série …

e tudo isto para quê?

Para satisfazer o anseio que está inculcado no espírito humano, percecionar o Criador, na busca do conhecimento e origem, que tantos crentes e não crentes discutem filosoficamente, uns com intuitiva fé, outros com instinto de negação.

“Todas as coisas são redutíveis a uma consciência universal, cuja energia criativa invade e penetra todo o universo físico”

 [Wang Yang-ming, filósofo confucionista]

Pessoalmente e de modo natural creio que Deus existe!  

 

Alma Lusa

em Coletânea Tempos difíceis

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⁽¹⁾ Não se entenda neste artigo que a sentença “Haja Luz” seja equivalente ao “Big Bang” cientifico. Uma distância incontornável as separa, plano Divino e plano material. Só é utilizada para melhor enquadramento do contexto.

Ler o capítulo 38 “Faça-se a Luz!” da obra Na Luz da Verdade – Mensagem do Graal do autor Abdruschin:

“…no plano Divino vontade e ação são sempre uma só coisa. A cada palavra segue-se imediatamente a ação, ou, mais precisamente, cada palavra já é a própria ação, porque a Palavra Divina possui força criadora, transformando-se portanto imediatamente em ação. Assim também na grande sentença “Haja a Luz!”